quinta-feira, junho 02, 2005

Reproduzo artigo da Soninha na Folha. Ela resumiu bemessa história do Barreira como Ronaldo.

"Vai entender a cabeça do Parreira." A frase já deve ter concluído algumas centenas de conversas de táxi e botequim, com todas as variações possíveis no adjunto adnominal (Felipão, Luxemburgo, Zagallo etc). Pois vou tentar entender.O técnico campeão em 94 se notabilizou por ser comedido. Bombardeado por críticas ferozes (como todos os outros), nunca perdeu a linha. Mas assim como alguns atletas ganham fama de brigões e nunca mais se desvencilham dela, a reputação de Parreira como alguém equilibrado, ponderado, coerente, se mantém à revelia dos fatos recentes.Nas entrevistas pós-convocações, por exemplo, Parreira tem demonstrado uma irritação que não condiz com a sua imagem. Por que ele às vezes acha tão incômodo explicar suas escolhas? Será que ele se irrita por não poder falar tudo o que pensa? Será que nem todas as escolhas são suas? Não estou insinuando esquemas com empresários e convocações forçadas (juro), mas ingerências diversas, pressões políticas. Ser obrigado a justificar uma decisão com a qual você mesmo não concorda pode ser mesmo muito irritante... Quando Parreira precisa convocar um time para enfrentar Hong Kong, talvez ache a situação tão absurda quanto a maioria de nós, mas tem de defender a "pátria" da CBF.No caso Ronaldo, Parreira foi incrivelmente inábil. Como ele pôde dizer "se houver um motivo forte, vamos estudar, mas pedir para descansar eu não aceito"? Um profissional como ele, com conhecimento em preparação física, não pode engrossar o coro de quem diz que "jogador não precisa de férias" (como se jogar bola profissionalmente fosse lazer de fim de semana). E o que queria que Ronaldo dissesse? Que "essa merda de Copa não vai acrescentar nada, e é impossível um titular garantido na seleção se aplicar ao máximo nessas situações"? Praticamente forçou o atleta a invocar "problemas pessoais"...A desconvocação das eliminatórias soa muito como pirraça. Se Parreira fica chateado por não poder usar a Copa para entrosar seu ataque, por que dispensa as duas chances que teria agora?Parece que Parreira sentiu-se pessoalmente ofendido com o pedido de dispensa, como quem pensasse: "Eu segurei a onda dele quando todos estavam contra, e agora ele me deixa na mão?". Mas ele não precisava (ou não devia!) manter Ronaldo em campo por 90 minutos só para "segurar a onda". Se o fez, errou. Concedeu privilégio quando devia ser mais frio; agora nega um pedido aceitável como se fosse um privilégio.Talvez o corte não tenha sido idéia dele, e sim da cúpula da CBF, ofendida com o desdém por seu evento precioso. Nesse caso, mais uma vez Parreira tem de ser porta-voz de uma decisão alheia. Ainda assim, poderia evitar dizer coisas como "também gostaria de treinar a seleção apenas na Copa". Não dá para comparar, Parreira. Mas, pensando bem, a frase pode ser reveladora da sua insatisfação com o que a CBF obriga um técnico de seleção a engolir.

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