domingo, julho 09, 2006

TALVEZ AGORA ME ENTENDAM

Estive no Chile na última semana. Vi de lá o jogo do Brasil contra a França. Infelizmente, porém, não consegui ler, ver e ouvir tudo o que a imprensa ufanista vomitou após a vergonha diante do time do rei Zidane.

Há pouco mais de um mês disse aqui que o Brasil não chegaria à final. Disse também os motivos. Expliquei que o salto alto, a soberba, a falta de humildade, a falta de foco, a falta de líder, o protecionismo irracional a alguns - sobretudo Ronaldo Bola - mas, principalmente, a falta de amor à camisa, não deixariam o Brasil vencer.

Falei que, exceto por 62, em todas as ocasiões em que o Brasil saiu daqui favorito, SIFU. Disse que neste ano não seria diferente. Disse que enquanto os adversários treinavam duro, o Brasil badalava. Enquanto os adversários estavam com 100% de foco e concentração, os brasileiros iam às baladas nas boates da Suiça e reclamavam da imprensa que noticiava. Disse que tudo aquilo seria o ingrediente perfeito para um fiasco do time de sei lá eu quantos bilhões de dólares. Acertei.

Comentei que a última Copa em que torci pelo Brasil foi a de 86. Naquela época havia jogadores que davam sangue pela camisa da seleção. Havia jogadores que mostravam todo seu sofrimento após uma eliminação. Havia jogadores que se desculpavam diante da torcida de milhões que choravam como eles após uma eliminação. Há muito tempo, contudo, não há mais jogadores assim nas seleções que a CBF monta, resguardadas poucas e honrosas exceções.

Vi através de TVs latinas as reações de jogadores de seleções eliminadas, como Alemanha, Argentina, Inglaterra e Portugal. Vi como os caras sofreram. Porém, mesmo não tendo torcido pela seleção chinelinho, fiquei puto ao saber das reações dos mercenários após a eliminação diante da França. Um foi comprar um Porsche de 500 mil dólares. O outro, deu uma festa. Um certo senhor obeso foi passear em NY com a sua noiva número sei lá eu qual. Parece-me que só um , segundo o taxista que me trouxe de Cumbica ontem à noite, teve peito de desembarcar pela porta principal do aeroporto: Cafu. Segundo ele, os demais ou ficaram na Europa, claro, ou sairam escoltados pelas portas dos fundos.

Alguns no trabalho, inconformados com a minha torcida pela Itália, sugeriram que eu não sou patriota. Ao contrário. É por me considerar patriota que me nego a torcer por esta gente. Nada tenho contra quem é bem sucedido e enriquece. Ao contrário. Acho que quem tem competência merece sucesso e dinheiro. Mas não consigo ver gente sem fibra, sem amor à camisa. Não consigo ver o quanto o povão se ilude com este bando e o quanto eles cagam para o sofrimento de milhões. Por isso torço feito louco pelo Brasil em todos os esportes, exceto futebol. Vejo as olimpíadas de cabo a rabo e vibro com cada conquista dos atletas brasileiros, mesmo que não levem medalhas. Gritei feito um maluco pelo Vanderlei Cordeiro de Lima naquela maratona, pelo Robert Scheidt, pelo volei, pelo basquete, pelo atletismo, pela ginástica, pela natação, por tudo. Menos pelo futebol. Simplesmente, não consigo. Não há gente lá que mereça minha torcida.

Enquanto alguns brasileiros ainda devem chorar de frustração, os caras devem estar em qualquer ponto da Europa torrando seus milhões e se divertindo muito. Bem feito à seleção chinelinho. Bem feito a caras como Roberto Carlos, que vão se aposentar por baixo. Muito por baixo, ainda que com muitos milhões na conta.

Igor

3 Comentários:

Às seg. jul. 10, 12:12:00 PM , Blogger Ricardo Ferraz disse...

Peraí Igor,

Escândalo só te deixa indignado da fronteira para dentro? Entendo, por conta dos seus antepassados, a preferência pela torcida italiana, mas me parece incoerente criticar o futebol brasileiro e tecer loas ao italiano. Também fiquei puto com a nossa derrota para a França, concordo com boa parte das críticas que vc faz ao desempenho dessa seleção, mas nem por isso deixo de tocer pelo Brasil.Os jogadores italianos polemizaram com os adversários, com a imprensa e foram protagonistas de um dos maiores escândalos do futebol mundial. Italianos têm tantos problemas extra-campo quanto nós. A única diferença da azzura em relação à equipe brasileira nesta copa foi a postura dentro de campo. Eles ganharam porque tiveram garra, força de vontade, espírito de equipe e concentração. Honraram a camisa e isso foi determinante. Mas tal postura também aconteceu em 94 e em 2002, mas vc já não torcia para o Brasil, nem vê méritos na conquista do grupo. Já mostramos cinco vezes que temos garra, força de vontade e técnica suficientes para ser campeões, apesar de todos os nosso problemas. Se isso vale para a Itália, deveria valer para o Brasil também.

 
Às seg. jul. 10, 03:14:00 PM , Blogger Igor disse...

Ricardo,

Você está certo quanto aos problemas extra-campo da Itália. Na verdade, acho que o problema é endêmico, pois há pouco tempo houve denúncias também na Alemanha.

Como um todo, acho que o futebol está longe de servir de exemplo. Tanto que prefiro uma Olimpíada a uma Copa do Mundo, de longe.

Ontem, por exemplo, fiquei triste pelo Zidane. Embora torcesse pela Itália, não sei se você vai acreditar ou não, mas torci para que o Henry se recuperasse no início do jogo, após aquela contusão, e lamentei a expulsão do Zizou.

Por falar no episódio, torço para que alguma câmera tenha mostrado o que o zagueiro italiano disse a ele, para que ele possa também ser punido. Zidane não perderia as estribeiras de graça, embora nada justifique aquela cabeçada numa final, em plena prorrogação.

Abraço,

Igor

 
Às seg. jul. 10, 03:38:00 PM , Blogger Igor disse...

Ah, pessoal, eu me esqueci de contar uma coisa muito legal: visitei o estádio Sausalito, em Viña del Mar, onde o Brasil jogou a primeira fase em 62. Foi de arrepiar entrar no estádio onde jogaram Pelé e companhia na campanha do bi. O estádio é menor que um Parque Antártica, imaginem. A estrutura, para os dias de hoje, seria totalmente inviável para uma Copa, evidente. Mas o lugar é lindo. E o mais legal: na entrada há uma placa colocada pela antiga CBD, em agradecimento à hospitalidade e ao apoio do povo de Viña.

Igor

 

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